sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A vaca que caiu do céu

Eu e as minhas estranhas noites. É madrugada. Duas, três, quatro horas da manhã...? Não sei. Espreito pela janela. Vejo a rua escura cheia de nenhures, a calma, a vastidão do abraço sufocante... Altura propícia para pensar nos horrores e terrores, nos prazeres e amores a si associados.
E - oh! espanto! - uma vaca acabou de cair do céu.
Esfrego os olhos... só posso estar a imaginar coisas! Mas não. Foi como um projéctil lançado dos céus, lá dos cimos, do Senhor que nos comanda. E o corpo da vaca caiu no meio da estrada. Dei por mim a ter pensamentos terrivelmente espantosos como "ai! se passa aí um carro, a vaca vai morrer atropelada!". Não! Espera lá! Não há vaca nenhuma caída na estrada, eu estou só a imaginar coisas.
Tento distrair o olhar. Viro-me para dentro, belisco-me. Estou acordada. Espreito pela janela. A vaca continua no meio da estrada. Mas, agora, não está mais naquela estranha posição deitada de lado. A vaca, lentamente, vai-se erguendo nas suas quatro patas. E olha para mim. Agora só falta mugires, pensei. Não... Espera lá! Outra vez? Mas tu ainda pensas que esta vaca caiu mesmo do céu? Só posso estar a imaginar coisas.
Como se estivesse no meio do campo a pastar em conjunto com as suas congéneres, a vaca olhava de um lado ao outro, mas sempre no meio da estrada. Como se não bastasse ser uma vaca, ainda por cima é estúpida! Dei por mim a fazer uma quase-loucura. Ia abrir a janela e gritar Ó senhora vaca, faça o favor de sair da estrada, é que eu não me apetece mesmo nada assistir a um atropelamento, ainda por cima um atropelamento de uma vaca!
Felizmente, consegui conservar alguma sanidade mental - se é que ainda tenho alguma, sim porque falar de vacas em blogues deve ser algo inédito - e permaneci onde estava. Dentro do meu quarto, tudo vazio. Lá fora, vaca. Comecei a pensar no ridículo daquela situação: podia-me ter caído tudo... flores, chuva, tomates, couves... agora uma vaca?! Com aqueles cornos?
A minha mente já via o filme todo. Uma carrinha branca a descer a rua a alta velocidade com música dos Xutos a altos berros, a vaca prostrada no meio da estrada, o seu olhar estúpido como quem diz pois, que remédio, que sina, que vida, aqui estou eu a arrancar uns tufos da estrada... A carrinha a embater na vaca. E ai! Vai tudo pelo ar, vaca, carrinha, estrada. Não! Só posso estar a imaginar coisas...
E o melhor de tudo é que eu parecia estar a ser completamente ignorada pela vaca. Quer dizer, pensei, uma pessoa dá-se ao trabalho de se preocupar com uma vaca, pensa no seu bem estar e na sua saúde e...nada em troca?
Não, não e não outra vez! Mas não está ali nenhuma vaca, mulher!
E agora, perguntam vocês, e muito bem, como é que termina esta história? A vaca é atropelada? A vaca muge, dá três patadas e desata a cantar o hino nacional ao contrário? A vaca é levada por uma nave de extra-terrestres e - puff - desaparece?
Não sei se estão a chegar ao ponto de quererem saber esse tipo de coisas. E eu também não sei o que aconteceu à vaca que caiu do céu porque foi tão só e simplesmente isso: uma vaca que caiu do céu, nada fez, nada aconteceu. E eu cerro as cortinas, olhando uma última vez e sabendo que amanhã de manhã estará a rua coberta de carros, de gente, de luz...de vacas?!

Ah, grande vaca!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Aqui vai um texto que escrevi para alguém que não mais vai voltar.


"Não sei a razão de estar a escrever esta carta. Possivelmente nunca a lerás (e eu também não faço questão disso). Onde estás, será que consegues ver-me debruçada sobre a secretária a escorrer em lágrimas e a escrever estas palavras? Desculpa se te incomodo... desde que foste, suponho que estejas em paz... Só que, por vezes, sinto a estúpida, digamos, necessidade de desabafar, mais que não seja para uma folha de papel ouvir. Espero que desculpes a minha ousadia em transmitir os nossos segredos - se é que ainda os temos - a uma página em branco. Mas o que é a vida se não escrevermos a nossa própria história? A minha tem sido escrita com alguma fantasia à mistura, bem sei. Bem sei também que as coisas não são fáceis e há feridas muito profundas que demoram a cicatrizar. Mesmo assim, apesar de todos os poblemas, a nossa vida tem de ter sempre bons momentos. E esses bons momentos dependem de nós e do nosso querer! Não sei se sabes, mas o que mais queria era voltar a ter-te aqui perto de mim, porque quando foste embora não avisaste. Podias ter deixado um recado - ou um sinal. Mas não deixaste e hoje, cada vez mais, tenho a certeza de que se aqui estivesses, não teria de passar por muitas coisas absurdas e sofrimentos inúteis. Tenho medo e temo por ti pois nada me garante, nem mais há-de conseguir garantir, que tu estás bem. Não posso ser egoísta. Mas peço que desculpes o meu egoísmo, a minha vontade de arrancar-te aí de cima e trazer-te para a minha vida. Não te sei explicar mais. Há sentimentos para os quais não conseguimos encontrar uma explicação lógica. E é muito doloroso pensar que neste mundo - e nesta vida - pouca gente é capaz de perdoar as falhas dos outros. Talvez esteja muito errada, espero dia e noite por um sinal teu; por um gesto que me permita dizer finalmente que posso descansar.
Estas palavras... por favor, não as interpretes como uma afronta, pois eu amo-te e nunca seria capaz de pensar em usar palavras que te possam ferir. Se estivesses aqui comigo, certamente dirias que não é, de modo nenhum, pouco dignificante admitir que sofremos por amor e que só podemos curar as nossas feridas encontrando a companhia do próximo...
Não estás. Nunca estarás. Porque os nossos mortos não voltam."

terça-feira, 25 de setembro de 2007

"Eu vi o anjo no mármore até que o esculpi e o libertei"
Michaelangelo
O ambiente no "Chá Refinado" tinha vindo a evoluir ao longo dos últimos tempos. A início, apresentava-se como uma mera tasca localizada numa escura perpendicular à rua principal da cidade. Na afamada esquina, as não menos afamadas cortesãs - companheiras de homens casados, viúvos, alegres, necessitados, embriagados, sujos, limpos, velhos, novos, solteiros, bem-parecidos, pobres, ricos ou milionários.
E todas as noites repetia-se o mesmo cheiro de bebida, suor, riso, vómito. Por estes tempos sórdidos e infiéis, note-se que o nome do barraco não era "Chá Refinado". O nome do quase-bordel era algo parecido com "As Três Pancadas". Todas as noites recebia a mesma escumalha de homens sedentos de bebida, gente procurando negócios ilícitos, mulheres de bem com um nome a zelar escondidas atrás de máscaras - e carregada maquilhagem - prontas para beber, fumar e satisfazer fantasias. O sítio praticamente só funcionava durante a noite, altura em que as meninas, as damas, os ranhosos e os capitalistas se revelavam num imenso mar de vidas duplas.
O recanto escondido era gerido por uma mulher e os boatos que corriam aqui e ali davam a entender que era uma tipa esquesita e morava no andar cimeiro da tasca-quase-bordel. Diz-se que ela controlava bem o negócio, apesar dos seus vividos quarenta e tantos anos. Só a viam durante a noite e era, por isso, crucificada em toda a cidade. "Vampira Rameira" ou "Vampira Destruidora de Lares". O importante é que era vampira, bebia o sangue dos inocentes e queimava os chorudos maços de notas na lareira do andar de baixo. Famílias de bem não se aproximavam do sítio, os padres benziam aquela rua, pessoas do povo - quando necessária a sua passagem por ali - traziam os bolsos carregados de bagos de alho. Mas de dia não se via nada, não sobrava nada. A porta de madeira com uma tranca de ferro estava fechada e a tábua que dizia "As Três Pancadas" perdia o brilho durante as horas dos vivos. Mas assim que o dia de trabalho acabava era vê-las aproximarem-se e exibirem os seus voluptuosos corpos. A porta da taberna abria-se e o som das gargalhadas, os gemidos de prazer e os sons de socos saíam para fora.
Era isto o "Chá Refinado" nos tempos passados. Com a vinda da revolução cultural, tudo o que era homem bêbado e mulher mundana passou a ser intelectual, discutindo política e arte nos cafés. Já nem eram cafés! Eram Centros de Cultura. Não havia elite porque essa época acabou com o privilégio dos homens de bem, fiéis e honráveis - que até passavam umas quantas noites animadas n'As Três Pancadas. O ambiente mudara um tudo-nada, mas os frequentadores eram, maioritariamente, os mesmos. Mas agora mudavam os seus trajes, bebiam hidromel e fumavam cigarrilha ao som de uma música harmoniosa, discutindo pinturas, claro-escuro, tamanho e tipo de pincéis. Tudo o que era político ou artista começou a juntar-se naquele afamado sítio assim que a "Vampira" fez as malas e foi cantar para outra freguesia. A revolução cultural acabou com a ideia dos prazeres mundanos estarem associados ao que é bom ou certo. Outro valor mais alto corria pelas ruas. Já não serviam ali as rameiras de sempre. O odor fétido a bebida não mais inundava aquela rua.
Foi aí que um rico banqueiro passou a tomar conta da ex-tasca-quase-bordel e mudou-lhe o nome e a decoração. Quem ali entrasse agora, tanto o fazia durante a noite ou o dia. As paredes forradas com papel rosa claro e os candeeiros ornamentados com pérolas preciosas iluminavam pinturas famosas adquiridas em leilão ou pintadas pelos pintores privados do novo dono. A escumalha pseudo-intelectual depressa desistiu do requinte do sítio e foi discutir arte e política para outro sítio. Em apenas alguns anos, o rico banqueiro mudou totalmente a reputação do estabelecimento. Frequentemente lá estavam os cavalheiros da cidade reúnidos à volta de uma mesa a tomar "brandy", a fumar charuto, a ler o jornal de elite e a discutir as últimas medidas da Assembleia das Cortes do Reino. Ou então lá estavam, a meio do "Chá Refinado", a mesa repleta de senhoras que vinham tomar o seu chá. E ainda as mais atrevidas que fumavam cigarrilha, desafiando homens a discutir economia, aprendendo a dançar ballet ou limitando-se a olhar os quadros dos pintores famosos. Não esquecendo também que ali era o centro de encontro dos novos-artistas: jovens do povo ou da classe comerciante dispostos a arranjar patrocínios ou a divulgar os seus textos. Ali conviviam diferentes pessoas porque ali discutia-se cultura e actualidade.
(Nota: Possivelmente um dia destes posto a continuação...)
Escrito por Vanessa.
Faz-me rir, ou faz-me chorar. Senta-te aqui e diz-me como te sentes. Não, não precisas de fingir em palavras. O teu estar em silêncio - que costumava aniquilar-me ontem - é o que me faz ficar calma hoje.
Faz-me...
Faz-me paz.
Faz-me alegria.
Faz-me ciúme.
Faz-me pensar.
Faz-me ser melhor.
Faz-me gritar.
Faz-me raiva.
Faz-me cega.
Faz-me compaixão.
Faz-me saudade.

Faz-me o mundo todo outra vez (e explica-mo como se eu fosse muito burra).

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Onde páras, justiça...?

Passei por cá só para dizer que estou profundamente desiludida. Sinto-me enganada pois um Estado - supostamente - democrático não brinca com a vida das pessoas. É com bastante pesar que vejo o nosso pequeno país à beira mar plantado cada vez mais submerso num mar de interesses e falta de objectividade... E isso preocupa-me porque, ao longo da nossa História, temos lutado muito e enfrentado grandes dificuldades. Um país que tem um Estado desde o século XII não merece isto! E agora, que caminhamos para a desordem, estou convicta em afirmar que isto mais parece uma República das Bananas. Como diz o outro "anexemo-nos a Espanha"!
Na base desta minha descrença no nosso Estado e nas suas instituições estão as alterações ao Código do Processo Penal que entraram em vigor no passado dia 15. Como temos ouvido pelos noticiários e lido em todos os jornais deste nosso Portugal, os presos que estavam em prisão preventiva têm sido libertados. Antes que me acusem de ser contra tudo e contra todos e de não tentar compreender o "outro" lado, digo-vos que entendo que, neste caso em geral, o problema não está na diminuição do tempo da prisão preventiva. Sabemos que a nossa justiça ainda funciona a carvão, contudo a nossa grande lacuna está mesmo nas próprias penas que se dão aos crimes. É óbvio que, mesmo com as antigas regras da prisão preventiva, sabemos que muitos presos continuam a vir cá para fora quando o limite acaba e por isso esta nova lei é mais drama da comunicação social do que outra coisa qualquer. Entendam-me, leitores, o meu problema não é esse! O meu estado de neura - perdoem-me a irritação - reside no facto dos nossos lesgisladores quererem IGNORAR o que se passa na nossa justiça. Será que passa pela cabeça de alguém intelectualmente honesto a diminuição dos prazos de prisão preventiva numa justiça já de si cada vez mais demorada? Mas então estamos a defender os nossos cidadãos íntegros ou os criminosos que tiram vidas e, por isso, devem merecer condições especiais? Benefícios na lei?
Agora eu, uma mera cidadã atenta, pergunto a esses senhores que escreveram estas leis se alguém na sua família foi morto depois de ser violado ou se levou dois tiros nas trombas?! É que se isso tivesse acontecido, de certeza que não tínhamos de assistir a esta vergonha! Não tínhamos de ouvir todos os dias na televisão criminosos de todo o tipo a escapar impunes e a justiça a ser esquecida. A justiça é um instrumento que deve ser objectivo e rigoroso; não pode servir interesses de quem a aplica ou de quem faz as leis! Entendem agora a minha desilusão?
É que se é para assistirmos a esta vergonha, a este desfilar de criminosos na nossa sociedade, a estas penas pouco pesadas para crimes de sangue, eu candidato-me já para a aAssembleia da República! É que se é para escrever leis destas, eu também consigo chegar lá facilmente!
Infelizmente, a nossa vida é pautada apenas por interesses, só conseguimos olhar para nós e eu pergunto, no meio desta ANARQUIA, onde pára a autoridade? Onde pára a educação? Vamos continuar a formar pessoas que têm apenas e só vento na cabeça?
ONDE PÁRA A JUSTIÇA? Não sou nenhuma revolucionária, mas é nestas alturas que o povo devia ir à rua manifestar-se ou então votar em branco nas próximas eleições! Desculpem, mas sinto-me profundamente desiludida com o estado da justiça no nosso país. Há muitas coisas que podem ser feitas para melhorar os tempos que os processos levam a ser resolvidos... vamos educar e capacitar mais pessoas para exercerem a justiça e para usá-la clara e rigorosamente.

Com tudo isto, acho que vou começar a retirar o que escrevi no post anterior. Já não sei se acredito num país que liberta um homem que matou uma criança depois de sucessivos abusos sexuais. ESTOU FARTA!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Há uma certa altura na nossa vida em que somos confrontados com a fé. Acredito que por mais que tentemos fugir dela, um dia a fé acaba por enfrentar-nos. Existem certas situações na nossa vida que, devido à sua complexidade, somos como que obrigados a acreditar em algo transcendente. É assim nos piores momentos. E é assim porque não conseguimos vislumbrar uma resolução para o nosso problema. E nesta parte da acção, cabe-nos a nós acreditar ou então virar as costas à fé.
Muito pessoalmente, encontro-me numa fase bastante espiritual. De renovação, diria até. Já passei por coisas deveras complicadas e não é meu objectivo relembrá-las aqui. Contudo, nestes tempos difíceis, tenho de confessar que sinto fé. Acredito em algo que está para além de mim. E a cada dia que passa tenho a certeza dessa presença na minha vida. Essa presença que me tem dado vida todos os dias ao acordar. As escolhas e os caminhos que tomamos são sempre nossos - pelo menos deveriam ser - mas, apesar dos conflitos na minha vida, sinto-me em paz. Gozo de uma paz especial, observando o desenrolar dos acontecimentos com um pequeno sorriso nos lábios. Como dizia o outro, o que tiver que ser, será. Não confudo este estado de espírito com conformismo. Pelo contrário! Uma pessoa que amo muito disse-me uma vez que eu sozinha não podia mudar o mundo! E eu aceitei essa afirmação, mas mesmo assim não desisto e continuo a ter fé. Peço então a quem esteja a ler esta simples reflexão que também tenha fé. Temos dentro de nós uma vela pronta a ser acesa, uma lamparina prestes a brilhar. E somos nós que temos de a acender! E imaginem se todos nós acendecemos a nossa centelha...
Somos capazes de ir à lua, somos capazes de construir máquinas maravilhosas e tenebrosas, somos capazes de mobilizar todo um mundo por uma causa mas, infelizmente, ainda não somos capazes de nos reconhecermos como seres humanos dignos de todo o respeito e dignidade. Porque é isso, e apenas isso, que devemos uns aos outros. E há que ter fé que esse dia vai chegar. Não demonstrar fé no castigo, mas sim na bênção. Às vezes pergunto-me por onde tem andado Deus deixando a sua criação à mercê de tantos desgostos. E cada vez mais, aumentando a minha fé, entendo que todos os nossos sofrimentos não são causados por Deus ou por outra qualquer entidade acima de nós. São sim causados pelos nossos irmãos de sangue, seres humanos como nós cujos valores essenciais perderam-se nos deslumbramentos negativos da vida. Não pode ser Deus a intervir e a curar as nossas feridas. Ele guia-nos e ensina-nos. O trabalho tem de ser feito por nós, ou seja, só nós podemos modificar as nossas atitudes e amarmos de verdade as pessoas que temos ao nosso lado.
Enquanto isso não acontece, permaneço na minha fé de que, um dia, surgirão tempos melhores. Apesar de tudo indicar o contrário, eu acredito!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A estrela que brilhou no escuro

"A noite caía na praia. Por momentos, confundi o azul escuro das ondas com o céu apresentado da mesma cor. Mas depois distingui os movimentos ondulantes do mar, a brisa fresca que batia contra a minha cara. Estava sentada na areia, a olhar as estrelas no céu e a sentir a rebentação das ondas bem próxima dos meus pés descalços. Esperava por um sinal. Mesmo assim, não me permiti fraquejar. Um cenário tão lindo e natural não merecia receber as minhas lágrimas. Ao invés disso, consegui esboçar um sorriso quando te vi a vir das dunas lá em cima. Descalçaste os chinelos e vieste a correr até mim. O teu passo - apressado como sempre - e o teu sorriso - alegre como sempre - fizeram lembrar-me os tempos de infância em que tudo era felicidade, brincadeira e amor. E então tu chegaste e deitaste-te ao comprido na areia. Permanecias em silêncio, mas o teu silêncio era especial. Vinha carregado de compreensão e carinho. Brindaste-me com um daqueles sorrisos - outra vez, tão bonito - e perguntaste porque tinha saído do acampamento. Expliquei que a música que tocavam na viola me deixara emocionada, com vontade de deixar tudo para trás e ir ao encontro do infinito, da paz. E se precisas de companhia, podemos ficar aqui a contar quantas estrelas estão no céu, disseste. Depois senti a tua mão a fechar-se na minha. Levantaste-me com facilidade. Puxaste as calças para cima e pegaste-me ao colo. Já não conseguia pensar em nada, apenas sentia o aproximar das ondas. Foi quando senti o meu corpo molhar-se entre as ondas acompanhado das tuas gargalhadas estridentes - aquelas que dás quando estás feliz. Depois, saí da água não sabendo se estava zangada pelo banho inesperado, se feliz pelo gesto meigo. Caminhámos pela beira da água durante um tempo infinito em que te contei muitas coisas sobre mim. Quando regressamos, a melodia triste ainda acompanhava a viola do rapaz da fita branca na cabeça e tu tentaste... E a última coisa que eu disse antes de dormir foi: "Ah, tu sabes...como eu gostava de gostar de ti!"

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Portugal e os três F's

Já vem do tempo de Salazar - esse grande português segundo alguns - que Portugal ficou conhecido como o país dos três "F": Fado, Futebol e Fátima.

Pois bem, eu sugiro a continuação da lista dos "F" adaptada à nossa actual realidade:

- F de Fatalismo - aquela "coisa" tão tipicamente portuguesa;
- F de Filas de espera - em todo o lado: hospitais, estradas, secretarias, etc.
- F de Facturas - nem vê-las!
- F de Fala-barato - aquela característica também tão lusitana;
- F de Falível - Empresas, Sistema Nacional de Saúde, Segurança Social e muito mais...tudo bons serviços!
- F de Férias - Férias judiciais...médicos de férias... Portugal todo de férias no "Allgarve"
- F de Fuga ao Fisco - prática recorrente;
- ...

E a lista continua!! Ide a correr buscar ideias ao Dicionário Básico da Língua Portuguesa!

Ah! Sr. Joe Berardo...



Joe Berardo... Já todos ouvimos falar deste "grande querido" seja pelas OPAs ao Benfica, pelas declarações polémicas sobre o símbolo Rui Costa ou pela participação activa na guerra que se instalou no Banco Comercial Português (BCP).

E, tendo sido noticiado por esse Portugal fora, certamente que já se ouviu falar do seu Museu no Centro Cultural de Belém... Pois é, apesar de ignorar que a sua Mona Lisa é apenas uma cópia do quadro original que está no Louvre (juro-vos que este senhor pensou, por momentos, que tinha o quadro verdadeiro de da Vinci!!), Sr. Joe apresenta uma colecção de obras de arte de grande interesse.

No passado Domingo tive oportunidade de visitar o CCB e foram três andares carregados de quadros de pintores muito conhecidos. (Vimos por lá Picasso, Paula Rego, Francis Bacon, Andy Warhol, etc.) Digo-vos que vale a pena visitar, não só porque aos domingos é gratuito como têm uma excelente oportunidade de escapar do cliché da praia ou da piscina...

Até comentava com um amigo meu que não sabia onde que raio aquele homem punha tanto quadro, mas já que decidiu expor a sua magnífica colecção, nós agradecemos!


Pois, Sr. Berardo... Pode não perceber nada de arte, mas o seu rico dinheirinho foi muito bem empregue...!

Ah, sabem aquele pinzinho em forma de coração que ele usa? Ontem é que reparei quando o vi falar na televisão... é igual ao meu! (e ao de todos que foram ao museu e puseram a mãozinha no cesto que oferecia os pins) Culture for Life!



terça-feira, 7 de agosto de 2007

Acho que voltei outra vez...

E, estando no meu estado predilecto - que é como quem diz deitada a olhar para o tecto - mudei a posição dos meus olhos e deparei-me com a parede! (espanto!)
E que segredos pode uma parede revelar?
Muitos, 90% dos quais não interessam a vós... Mas sempre há a minoria dos 10% (quem diria! as minorias também contam!!!! - maravilha!)... E que revelam, afinal, esses 10%?

Bem, segundo o quadro que tenho pendurado na imaculada e lisa parede, só revelam basicamente coisas tristes sobre mim... Ora verifiquem:

"Símbolo da fecundação, de tudo o que está prestes a nascer, mostra-se tímida e vulnerável. Ás vezes refugia-se na sua carapaça aparentando ser dura, insensível e indiferente. (Nota de Vedeta: como se pode ver, só qualidades!)
Mas é essencialmente um ser puro e simples. (Nota de Vedeta: Isto é a parte boa?!) Tem forte necessidade de se sentir amado e de amar. (Nota de Vedeta: esta parte até está a negrito... esta gente dos signos só diz verdades!!!!) É muitas vezes ciumenta e possessiva (Nota de Vedeta: não há nota possível para esta parte), exigindo fidelidade absoluta. Trabalhadora activa, honesta e tenaz não pára até obter o que quer."


Só verdades? Só mentiras? 50-50? 75-25?
Fica ao vosso critério!

Um início nada original!

Preparem-se... daqui não vem coisa boa! Para já, porque sou eu que escrevo (e isso, só por si, deve bastar para desanimar qualquer nobre visitante deste novo cantinho) e depois porque vou postar o que chamo de "o meu lixo virtual". Todos o temos...uns mais, outros menos... e o meu "caixote" já está muito saturado! Mas mesmo assim, de vez em quando, vou tentando a técnica da reciclagem...
Bem, metáforas à parte (sim, aquelas coisas complicadas que dão cabo do raciocínio a qualquer bom português), aqui fica uma nota de início deste blog para o qual não tenho nenhum objectivo proposto, mas que se servir de incentivo ou de entretenimento a alguém que ande perdido neste vasto mundo virtual da internet...enfim, que sirva os seus propósitos!

Bem vindos ao meu cantinho, bem vindos a uma (pequena) parte de mim!


PS - Devo uma explicação quanto ao nome que escolhi para este blog... A explicação é que simplesmente não há. Ou melhor, há... Como me dou só com gente muito boa (!!!), cereja azeda é a alcunha dada por um amigo meu a uma personagem de uma série sobre terroristas (???) numa daquelas boas conversas que só se costumam ter na praia de...Sesimbra?!