terça-feira, 2 de outubro de 2007

Aqui vai um texto que escrevi para alguém que não mais vai voltar.


"Não sei a razão de estar a escrever esta carta. Possivelmente nunca a lerás (e eu também não faço questão disso). Onde estás, será que consegues ver-me debruçada sobre a secretária a escorrer em lágrimas e a escrever estas palavras? Desculpa se te incomodo... desde que foste, suponho que estejas em paz... Só que, por vezes, sinto a estúpida, digamos, necessidade de desabafar, mais que não seja para uma folha de papel ouvir. Espero que desculpes a minha ousadia em transmitir os nossos segredos - se é que ainda os temos - a uma página em branco. Mas o que é a vida se não escrevermos a nossa própria história? A minha tem sido escrita com alguma fantasia à mistura, bem sei. Bem sei também que as coisas não são fáceis e há feridas muito profundas que demoram a cicatrizar. Mesmo assim, apesar de todos os poblemas, a nossa vida tem de ter sempre bons momentos. E esses bons momentos dependem de nós e do nosso querer! Não sei se sabes, mas o que mais queria era voltar a ter-te aqui perto de mim, porque quando foste embora não avisaste. Podias ter deixado um recado - ou um sinal. Mas não deixaste e hoje, cada vez mais, tenho a certeza de que se aqui estivesses, não teria de passar por muitas coisas absurdas e sofrimentos inúteis. Tenho medo e temo por ti pois nada me garante, nem mais há-de conseguir garantir, que tu estás bem. Não posso ser egoísta. Mas peço que desculpes o meu egoísmo, a minha vontade de arrancar-te aí de cima e trazer-te para a minha vida. Não te sei explicar mais. Há sentimentos para os quais não conseguimos encontrar uma explicação lógica. E é muito doloroso pensar que neste mundo - e nesta vida - pouca gente é capaz de perdoar as falhas dos outros. Talvez esteja muito errada, espero dia e noite por um sinal teu; por um gesto que me permita dizer finalmente que posso descansar.
Estas palavras... por favor, não as interpretes como uma afronta, pois eu amo-te e nunca seria capaz de pensar em usar palavras que te possam ferir. Se estivesses aqui comigo, certamente dirias que não é, de modo nenhum, pouco dignificante admitir que sofremos por amor e que só podemos curar as nossas feridas encontrando a companhia do próximo...
Não estás. Nunca estarás. Porque os nossos mortos não voltam."

1 comentário:

Filipe Ribeiro disse...

uma carta intimamente maravilhosa...